1998

CARTAZES QUE CONTAM A HISTÓRIA

Dia 17 de outubro, o dia em que tudo começou. Na verdade não, tudo começou alguns meses antes, quando marcamos com o Marcelo Donald, vocalista e um dos fundadores da banda Gritando HC, a inauguração do Hangar110. Foi uma corrida contra o tempo, pois ainda estávamos reformando o galpão da Rodolfo Miranda. Não havia dinheiro, já tínhamos vendido tudo que podíamos e estávamos aproveitando todo o material reciclado que o imóvel tinha na época da locação. Trabalhávamos todos os dias de segunda a segunda.

O primeiro show já estava acertado com Gritando HC, CPM22 e Imperpheitos da cidade de  Santos.

“Lembro que as 19hs00 abrimos e a rua estava escura. Corri até o telhado e instalei um refletor para iluminar a entrada enquanto as pessoas estavam se aglomerando, aguardando a abertura da casa”. (Marco Badin)

As pessoas começaram a chegar, porém o tempo foi passando e o Imperpheitos não chegavam. Não queríamos logo no primeiro dia falhar com o horário, então o Donald conversou com a segunda banda e eles aceitaram tocar. E com isso o nosso palco foi inaugurado pelo CPM22. Imperpheitos conseguiram subir a serra, se apresentando na sequência e finalmente, a noite foi encerrada pelo carismático Gritando HC.

Esse ano de poucos shows, foi um período de expectativas onde tudo era novo para todos. Para o Hangar era um momento de observar, estudar e aprimorar o projeto. Formatar o modelo de negócio que fosse viável para todas as partes. Para as bandas talvez mais um lugar como qualquer outro, até porque pairava sob o ar uma certa desconfiança, será que é um lugar com uma proposta séria?

Mesmo assim foram shows icônicos como a Volta do Olho Seco com nova formação e uma das bandas punks brasileira mais respeitada no mundo, Cólera.

Nessa época a arte de um cartaz, que chamávamos de arte-final, ainda se fazia com colagens, fotos e montagens.

Nesse primeiro ano, foram poucos shows e quase todos os cartazes foram feitos com essa técnica que era muito usual na época, o paste-up, que consiste em recortar palavras de revistas, jornais ou até mesmo de uma impressão ( sim já tínhamos computadores) e montá-las conforme a conveniência. Nos anos 70 e 80, especificamente de 76 pra frente, era muito usada nos folhetos, zines, cartazes e discos de punk rock. De uma maneira mais despojada, recortada a mão para passar a mensagem  “do it yourself”, faça você mesmo.

Podemos encontrar essa técnica nos cartazes de 1998 nos shows do Olho Seco, Cólera e em 1999 nos shows do Ação Direta, Olho Seco e Holly Tree. Em 2000 no show do Zumbis do Espaço.