2000

CARTAZES QUE CONTAM A HISTÓRIA

Nostradamus, Mãe de Ogun, tudo caminhava para uma tragédia. Ano em que os computadores iriam parar, o planeta iria entrar em colapso e o mundo ia acabar. Todos erraram feio, o mundo não acabou e 2000 marcou o início de um período muito bom para o rock alternativo nacional.

Nosso horário, que no começo era tratado como matinê com um certo ar de deboche, passou a ser o ponto alto para que a engrenagem começasse a funcionar. Os horários eram rigorosos, pelo menos para a saída do palco e com isso o término dos shows sempre foi entre 23:30 e 23:45, tempo suficiente para o público correr até o metrô e chegar em casa com segurança. Além disso, a dinâmica das apresentações geraram uma relação muito mais próxima do público com a banda. Os materiais das bandas passaram a ser muito procurados, cds, camisetas, botons. A banda vendia mais, podia investir em estúdio melhor, melhor gravação, mais cds vendidos, as lojas vendiam mais material das bandas e a roda começou a girar.

Foram inúmeras atrações internacionais e o início de uma grande amizade com as bandas e produtores  nacionais.  Nessa época havia muitos selos independentes que realizavam shows com as bandas do próprio selo. Isso ajudou no intercâmbio entre as várias cidades do Brasil. Essa movimentação de bandas gerou um boca a boca e criou-se uma expectativa de tocar no Hangar mesmo sem conhecer. Bandas de todos os lugares do País enviavam material para tocar.

Algumas que não podemos deixar de citar, além de inúmeros shows sensacionais nacionais e internacionais como Skabadabadoo,  Dead Fish, Street Bulldogs, Mukeka di Rato e Rethink, Bambix, Cannibal Corpse, GBH, Holly Tree, Rasta Knast, RDP, Inocentes, Carbona, Shelter, The Exploited, No Fun At All em sua segunda passagem pelo Brasil e a icônica banda Irlandesa Stiff Little Fingers.

“A última coisa que eu imaginaria, seria ver o vocal Jake Burns tomando cerveja em um daqueles butecos da Av. Tiradentes, mas aconteceu.”

Ficamos sabendo há pouco tempo que a Banda Rivets do Rio de Janeiro, que se apresentou junto com os  americanos do Lagwagon, fez sua primeira aparição pública nesse show.

“Dentre várias curiosidades, a mais inusitada foi com o Exploited. Na época do show, a mesa de som ficava onde hoje é o mezanino e não deixávamos que as pessoas subissem para não atrapalhar a técnica. Mas nesse dia um amigo das antigas, Luiz Louco, veio pela primeira vez no Hangar e pediu pra ficar ali ao lado da mesa. A banda começou a introdução de “Fuck the USA” e quando entra com a música o disjuntor cai. A banda tenta mais duas vezes e o disjuntor continua a cair. Parecia que tinha um americano desligando a energia mas era um fio que, quando entrava a música e o Luiz Louco pulava, o piso de madeira estrangulava o fio de energia, fechava curto e o disjuntor caia. Conseguimos descobrir e na quarta vez rolou, Fuck the USA.”

Voltando aos processos, vale lembrar que aos poucos o computador com seus programas gráficos (Ventura, Corel Draw, Photoshop) foram tomando conta das artes e quase tudo era feito com essas ferramentas. Não pense que era fácil, um HD bom na época tinha 100 megas,  era do tamanho literalmente de um tijolo. A impressora chegava a demorar horas para imprimir uma folha A4 e ao término, se você não havia revisado o texto e faltasse alguma letra em uma palavra, você queria arrancar os olhos porque todo o trabalho ia por água a baixo. Todos os insumos eram caríssimos, tinta de impressora colorida, tonner para impressora preto e branco e papéis especiais.

Esse tipo de limitação financeira nos levou a usar uma técnica, que consistia em imprimir em tamanhos pequenos com uma boa resolução e ampliar nas máquinas de xerox. E aqui vai nosso agradecimento às copiadoras da galeria do rock e da galeria 24 de maio, em destaque a Mara Copiadora que foi uma parceira nesse tipo de trabalho sempre com máquinas de última geração, que nos davam bons resultados. Podemos ver essa técnica em quase todos os cartazes de 2000, 2001 e 2002.