CARTAZES QUE CONTAM A HISTÓRIA

1998-2021

A História pode ser contada de diversas formas, por desenhos e objetos encontrados em um sarcófago no interior de uma pirâmide, por documentos guardados em um mosteiro na França, pelas pinturas pré-históricas no sertão pernambucano. Crenças, rituais, festas, bebidas, música, sabemos de tudo porque os povos deixaram rastros para que pudéssemos decifrá-los.

Nesses 23 anos de Hangar110 deixamos nossos rastros, juntamos mais de 2100 cartazes e junto com algumas memórias, vamos contar um pouco da história do nosso querido templo do rock paulistano. Muitos desses cartazes são verdadeiros garimpos arqueológicos, cópia da cópia da cópia. Alguns em papel, outros em disketes e cds. A qualidade deixa um pouco a desejar em alguns casos, mas o mais importante é o registro. Devemos também relevar algumas linguagens que na época não eram ofensivas, mas que hoje não seriam adotadas. Muitas das artes foram feitas pelo Hangar, porém outras tantas por bandas ou por amigos das bandas, sendo impossível creditá-las. Este site tem única e exclusivamente a função de resgatar uma parte da história da cultura paulistana, sem fins lucrativos.

Já se vão alguns anos que pretendíamos executar esse projeto, porém, foi justamente no período de pandemia do covid-19 que através da Secretaria Especial da Cultura do Governo de São Paulo, Lei Aldir Blanc, que conseguimos torná-lo realidade.

Tudo começou em meados de 1997, a cidade de São Paulo estava repleta de bandas independentes. Boas bandas, bons discos, bom público, porém havia alguma coisa que não completava o cenário, lugar para as bandas se apresentarem. Em sua grande maioria eram lugares pequenos, alguns de improviso. E foi nesse contexto que decidimos abraçar a idéia de abrir um espaço para a arte independente. Nossa idéia inicial era voltada a música, teatro, dança, ou seja, tudo que englobasse a arte underground. Porém, e sempre tem os poréns na história da humanidade, a música é que realmente deu a cara ao lugar. Talvez pelo Hangar110 ter sido idealizado pelo casal Cilmara e Marco Badin, e este ter participado nos anos 80 como vocalista da não tão famosa banda punk Anarkoolatras.


A largada dessa história foi o grande dia 17 de outubro de 1998, um show para cerca de 200 pessoas. Uma mistura de moicanos, alfinetes e skate, que contrastava com os familiares dos sócios, que diga-se de passagem, ajudaram na reforma do espaço.


Essa e outras histórias serão contadas ano a ano. Com certeza muita coisa vai ficar de fora, mas faremos o possível para tornar essa jornada divertida. Você mesmo pode ter sido o protagonista de alguma delas e ter abrilhantado a trajetória desse lugar, que através de gerações forjou caráter, criou relacionamentos, juntou pessoas que por sua vez formaram famílias ou grandes amizades.

Também vamos dar uma pincelada nos processos que foram aplicados na confecção das artes dos cartazes, tentar traçar uma trajetória da evolução tecnológica que nos possibilitou fazer grandes shows e um grande show necessariamente não é aquele em que a casa esta lotada, mas aonde existe uma cumplicidade entre banda e público, nem que seja para 20 pessoas.


Os processos tiveram uma evolução sensacional nos últimos 30 anos, foram saltos de qualidade nunca antes vistos. Para se ter uma idéia, o celular foi lançado no Brasil em 1990 e era um verdadeiro tijolo e hoje é praticamente um computador de bolso aonde podemos fazer a arte de um cartaz e divulgar um show em minutos, sem impressão, sem desperdício de papel e tinta, sem poluição visual e ambiental. Porém a essência permanece, o poder que o cartaz tem em transportar as pessoas para algum momento exato, aquele em que você o viu exposto, seja na loja da Galeria do Rock, no estúdio de ensaio, na loja de instrumentos musicais, na tela do celular ou mesmo no mural do Hangar, a primeira coisa que vem na sua cabeça é “NESSE EU FUI”.